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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O lixo que vira luxo a partir da reciclagem

Já foi o tempo em que lugar de lixo era só a lixeira. Com as questões ambientais cada vez mais em alta, a palavra de ordem é reaproveitamento. Do óleo de cozinha às sobras de tecido, tudo pode ganhar uma segunda utilidade — basta um pouco de boa vontade e imaginação. Na Zona Sul, muitas pessoas, lojas e empresas já aderiram a essa prática. É o caso do artista plástico Evandro Jr, que cria quadros e outros objetos de decoração a partir de materiais reciclados.
— Quando comprei uma casa em Itaipava, estava um pouco desiludido. Achei que o mundo estava muito destruído e comecei a experimentar, na arte, um lixo lindo que vinha até da mata. Deu certo — conta Evandro, que acaba de inaugurar uma loja no Shopping da Gávea.
O trabalho de Evandro Jr foi batizado de “Assemble”, que, segundo ele, significa “a construção do equilíbrio pela disposição das peças”. Em seu processo de criação, ele usa vários tipos de materiais reaproveitáveis que consegue em bares, restaurantes, armazéns e brechós.
— Uso aquilo que, a meu ver, tem leitura de arte. Tudo que pode ser customizado, mas com uma suave elegância. Esse é o truque. Recentemente, fui a um cemitério e vi uma peça incrível, mas logo me lembrei do Ronaldo Esper (que foi detido em 2007 por tentar roubar dois vasos de um túmulo em São Paulo) e saí correndo da tentação — brinca o artista.
Seguindo o mesmo conceito, de fazer peças a partir de materiais que iriam para o lixo, o artista plástico Sergio Cezar, de Laranjeiras, ficou conhecido por seus projetos de arquitetura em papelão. Foi ele quem criou a favela que aparecia na abertura da novela “Duas caras”, exibida entre 2007 e 2008 pela Rede Globo. O artista foi tema do curta-metragem “O gigante do papelão”, lançado no ano passado e já exibido em 12 países. Atualmente, Cezar está trabalhando com peças de moda, inspiradas no conceito art fun, todas criadas com papelão.
— Aprendi a dar valor à reciclagem com o meu pai. Quando eu era criança, queria de qualquer maneira uma bicicleta, mas ele não tinha condições de comprar uma. Então, por oito meses ele juntou sucata e foi montando uma, sem eu saber. Em um aniversário inesquecível, pude, enfim, ganhar meu tão sonhado brinquedo — lembra, emocionado.
No sábado, a partir das 14h, Cezar vai abrir seu ateliê, na Rua Cardoso Júnior 134, para uma exposição. Ele dá aulas de arte com materiais recicláveis, serviço que também é oferecido pelo Galpão de Artes da Comlurb (3874-5148), na Gávea.
E se arte sustentável está na moda, grifes da Zona Sul já estão acatando a tendência. A Sementeira, no Shopping da Gávea, criada pela designer Camila Bezerra, trabalha com malhas feitas de garrafas PET recicladas e seus móveis são de madeira de demolição.
A grife Balaco, da designer Julia Vidal, dedicada à identidade cultural brasileira, tem proposta semelhante. No ateliê da marca, em Laranjeiras, sobras de tecidos de coleções anteriores são reutilizadas.
— Não geramos lixo para o meio ambiente e reaproveitamos resíduos para produtos como guirlandas e acessórios — diz Julia.
Restaurantes e bares da região também estão mudando de atitude em relação ao lixo. O Belmonte, no Leblon, é um dos quase 200 estabelecimentos gastronômicos da Zona Sul que doam óleo de cozinha usado para a cooperativa Disque-Óleo, que usa a gordura na produção de sabão, detergente, ração animal e biodiesel.
— Infelizmente, ainda não reciclamos nem 10% do óleo que é usado em restaurantes da região. Com o surgimento do biodiesel, está melhorando um pouco. Acredito que até 2016 consigamos dobrar a produção — diz Marcelo Oliveira, executivo da cooperativa.
Para incentivar a doação, Oliveira costuma fazer negociações com os donos dos estabelecimentos. A cada 30 litros de óleo doados, a cooperativa retribui com produtos de limpeza.
A sanduicheria Focaccia também tem práticas de sustentabilidade. Na loja do Shopping Leblon, existe uma parceria com a comunidade da Cruzada São Sebastião, para onde o material segue e é reciclado. E, no restaurante do Baixo Leblon, todo alumínio descartado é recolhido diariamente por um grupo de catadores.
A Deliziosa Pasta Spressa, em Ipanema, além de madeira de demolição, usa potes, talheres, canudos e sacolas plásticas biodegradáveis. Além disso, Marcelo Andrade, sócio da loja, acaba de fechar uma parceria com uma empresa de consultoria gastronômica para um treinamento dos funcionários — o objetivo é promover a economia de água e luz e ensinar a descartar materiais.
— Queremos criar a cultura da sustentabilidade na nossa equipe — diz Andrade.
No Bar do Horto, a decoração, com luminárias de garrafas PET e tampinhas plásticas faz toda a diferença.
— Além de chamar a atenção de quem passa, estamos contribuindo para o meio ambiente — afirma Samantha Rodrigues, dona do estabelecimento.
Iniciativas coletivas também existem na região e ajudam na preservação do meio ambiente. No condomínio Maxi Leblon, no Alto Leblon, todos os moradores, segundo o síndico Oscar Moreira, separam o lixo para a coleta seletiva.
— No início, houve certa relutância, mas, hoje, posso dizer que atingimos a marca de 100% de condôminos participantes. Antes, havia muitos ratos e baratas na lixeira, e o cheiro de sujeira era forte. Agora, acabou — afirma o síndico.
O Maxi Leblon faz parte de um grupo de centenas de condomínios da Zona Sul que fazem coleta seletiva. Apesar disso, a Comlurb informa que o lixo disponibilizado para a reciclagem corresponde a apenas 1% do total produzido.