Postagens

Levando Jesus às Nações!

domingo, 7 de outubro de 2018

Mecanismos de resistência do carrapato bovino a pesticidas são identificados

Em 2017, o rebanho bovino brasileiro era composto por 217,7 milhões de animais, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina, com vendas de US$ 6,28 bilhões em 2017.
Tais cifras poderiam ser ainda maiores, não fosse a imensa perda econômica anual causada por parasitas, estimada em ao menos US$ 13,9 bilhões em 2014. Em outras palavras, as perdas com mortalidade, queda de peso, redução na fertilidade e perda de produtividade provocadas por parasitas equivalem a mais do que o dobro de tudo o que é exportado.
Os maiores causadores de prejuízos são os parasitas internos, como vermes gastrintestinais, responsáveis por perdas de US$ 7,1 bilhões (51%). Em seguida vêm os parasitas externos, que se instalam fora do corpo do hospedeiro. Nenhum causa mais prejuízos do que o carrapato bovino (Rhipicephalus (Boophilus) microplus), responsável por perdas de US$ 3,2 bilhões ao ano (23,2%). A mosca-dos-chifres custa perdas de US$ 2,5 bilhões (18,3%), enquanto o berne, a mosca-da-bicheira e a mosca-dos-estábulos somam perdas de US$ 1 bilhão (7,5%).
O controle do carrapato bovino é feito por meio da aplicação de pesticidas, o que conduz, invariavelmente, a seleção de linhagens resistentes. Hoje, no Brasil, o carrapato bovino apresenta resistência, em maior ou menor grau, a todos os pesticidas comerciais empregados no controle da praga.
Em um trabalho publicado na Scientific Reports, pesquisadores do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF), em Eldorado do Sul (RS), identificaram mecanismos de resistência do carrapato bovino contra a ação da ivermectina, uma das drogas mais utilizadas no combate às infestações por R. microplus. A pesquisa teve apoio da FAPESP e do CNPq.
“A infestação ocorre no momento em que o carrapato se alimenta com sangue do animal. É quando o inseto inocula substâncias anti-hemostáticas, anti-inflamatórias e imunomodulatórias contidas em sua saliva”, disse Tatiana Teixeira Torres, que conduziu a pesquisa com os geneticistas Valéria Lis Le Gall e Guilherme Marcondes Klafke.
Segundo Torres, essas substâncias modificam a fisiologia no local da picada, causando perda de sangue, redução na imunidade do hospedeiro e irritação. “O estresse do animal causado pelas infestações conduz a interrupção na alimentação e, consequentemente, à perda de peso e à redução da fertilidade”, disse à Agência FAPESP.
A droga de referência no combate ao carrapato bovino é a ivermectina, com propriedades anti-helmínticas, acaricidas e inseticidas. A ivermectina é antiparasita de amplo espectro, usado tanto no tratamento de humanos como dos animais de criação.
“A ivermectina atua como um anáogo de um neurotransmissor chamado GABA, existente em vertebrados e invertebrados. No caso do carrapato, esse neurotransmissor atua nos canais de cloro ligantes de glutamato, que são neurorreceptores exclusivos dos invertebrados. Atuando em nível molecular, a droga se liga aos canais de cloro dos neurônios da junção neuromuscular do inseto, bloqueando a neurotransmissão, o que paralisa a musculatura do inseto, levando-o à morte”, disse Torres.
A ivermectina foi descoberta em 1975 e vem sendo usada comercialmente desde 1981. Isso significa que, no caso do carrapato bovino, ao longo das últimas três décadas inúmeras gerações de R. microplus foram expostas à ação da droga. Daí que a espécie acabou por desenvolver resistência à ivermectina.
De acordo com Torres, em R. microplus vários mecanismos podem estar envolvidos na resistência à ivermectina, incluindo a capacidade fisiológica de desintoxicar ou tolerar substâncias tóxicas. “Os mecanismos metabólicos da desintoxicação são mediados por famílias de enzimas e também por proteínas específicas, que foram sendo selecionadas pelo mecanismo da seleção natural”, disse.
Os carrapatos que não contavam com a ação de tais enzimas e proteínas morriam em presença da ivermectina. Já aqueles que produziram essas substâncias sobreviveram e produziram mais descendentes, que acabaram por formar as linhagens resistentes.
Segundo Torres, os mecanismos metabólicos nos carrapatos responsáveis pela desintoxicação são mediados por famílias de enzimas, incluindo o citocromo P450, esterase e glutationa-S-transferases (GST).
“Outras proteínas, como os transportadores ABC, também contribuem para os processos de desintoxicação, transportando substâncias tóxicas para fora das células, com consumo de ATP”, disse.